terça-feira, 20 de outubro de 2009

O PIAS...

Foi com pesar, que soube da morte do Pias, meu explicador de Matemática, que me deu a conhece-la, despida de chavões e de grinaldas, tão ao gosto dos professores, que só servia para assustarem os alunos levando-os a desistirem.

Com ele era diferente, havia espaço para o essencial, tento na teoria como na prática, sem necessidade de subterfugios e truques, tudo era claro, como deveria de ser, tudo era simples, como o sorriso de uma criança. Depois do essencial, havia as quebras para descomprimir, onde ele contava as suas anenotas picantes ou fazia alguma observação mais mordaz a alguma senhora presente, com roupas mais sensuais, no meio do seu cigarro... é verdade, dava a explicação a fumar!!Só sei, que com ele aprendi mais num ano, que em três no ensino público, não sei qual a razão, mas desconfio... Também sei, que graças a ele, eu e muitos como eu pudemos entrar no ensino superior e acabar as nossas licenciaturas.

Isto tudo era passado duas vezes por semana no Nosso Café durante um ano. Era um outro tempo, que já lá vai ...onde a palavra café tinha um outro significado, podia-se jogar bilhar ou à Sueca, fumar, dar explicações, fazer coroché, beber vinho pelo bule do chá...eram um outro mundo impreguenado de contrastes e de tolerância, que ao pouco se vai esbatendo até que a nortada e a chuva leve os últimos resquícios dele.

José Ferreira

2 comentários:

DdCastro disse...

O Pias... para além do génio ( e das histórias associadas - quiça algumas já mitos urbanos ), fica na nossa memória a personagem. Tive explicações com ele no verão de 1994, entre a passagem da 1ª para a 2ª matricula. E era um excelente professor. Sempre de cigarro na mão, com o seu copo, a mandar umas farpas para escândalo das velhas, sempre de olho atento às miudas. Mas era um exclente profesor. E pergunto, o que raio fazia um homem daqueles, autodidacta se não me engano, no nosso café ? Ensinava. Como poucos.

Raqui disse...

Fiquei verdadeiramente triste com a notícia, até porque soube já depois do funeral... É daquelas pessoas a quem se deve uma homenagem! Não só pelo génio e professor que era, mas pela vida boémia que levou e que não o impediu de viver até aos 93 anos!!!

Obviamente que o Pias foi também meu explicador, antes e durante a faculdade. De Matemática, mas não só. Nas vésperas de exames de estatística, econometria, métodos de previsão, ele ensinava de tudo com uma eficácia incrível!

Em tempos alguém se lembrou que na naquela mesa do Nosso Café deveria lá estar uma estátua (assim estilo Fernando Pessoa), sentado à mesa, com o seu cigarro sem filtro na mão, e a dar explicações. O Nosso Café, já não o é! Mas é assim mesmo que o vou recordar!